sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Amanhã tem sol





Eram 07h45 e o vento soprava gelado. As árvores agitavam suas copas, que contrastavam com nuvens carregadas. O dia nublado não oferecia um convite para desfrutá-lo sentado ao pé da jabuticabeira, mas como não sou apegado a formalidades, decidi me sentar sob as jabuticabas mesmo assim.

Peguei um casaco pesado e um copo com café quente,  sentei na grama e apoiei minhas costas no tronco da árvore. Me preparei para passar as próximas horas em silêncio, apenas ouvindo a prosa que o jardim tinha para contar.

Passado algum tempo, o quieto jardim abriu um belo sorriso amarelo: uma plantação de girassóis saltou diante dos meus olhos chamando minha atenção. Observei cada flor e reparei que todas estavam em suas posições originais, pois a ausência do sol as deixava sem movimento. Todas, menos uma.

Entre todos girassóis estáticos daquele dia grisalho, um se movimentava como se o sol estivesse raiando. Intrigado, me demorei na contemplação do fenômeno inusitado.

No começo da manhã, ao contrário de todos os outros, o meu girassol se inclinava para o leste. Era lá que o sol lhe daria um beijo de saudação. Ao longo do dia, seguiu o caminho que o Grande Astro faria até se despedir no oeste, repousando no horizonte. Do oriente ao ocidente, aquela incrível flor percorreu todo o trajeto solar ignorando o dia pálido.

Colhi algumas jabuticabas e meditei ao cair da noite. A doçura das frutas me ajudou a saborear aquela cena. Digeri a conversa e logo entendi seu ponto.

Nos nublados dias de chuva, o girassol fecha seus olhos e se movimenta como se o dia estivesse raiando. Repete o mesmo movimento dos dias ensolarados, ensaiando para o próximo encontro com o sol. É assim que mantém sua raiz aquecida, num gesto de esperança.

Levantei-me e fui até a flor. Cuidadosamente arranquei o girassol da terra e plantei sua raiz no peito, para germinar um campo de esperança em mim. Um lugar onde eu possa colher o futuro. Agora ensaio movimentos de alegria mesmo nos dias tristes, porque aprendi a confiar que sempre há um próximo encontro com o sol.


Lucas Lujan