terça-feira, 30 de abril de 2013

Cuide do seu espírito



É determinante o encontro de Jesus com a mulher samaritana, em Sicar, diante do poço de Jacó. Há nele uma revelação que orienta todo pensamento a respeito de Deus: Ele é espírito, e procura adoradores em espírito e em verdade.

Um Deus que é espírito e procura adoração em espírito não se preocupa com o local da adoração, se é no monte ou no templo. Não há melhor local.

Não se preocupa com a religião, se é judeu ou samaritano. Não há melhor culto.

Não se preocupa com raça, se é hebreu ou babilônio. Não há melhor etnia.

Para encontrá-lo, é necessário um espírito adorador e verdadeiro. O resto é irrelevante. O espírito não se limita por barreiras externas. Ele é interior, onde rótulos não têm a menor importância.

Espírito adorador e verdadeiro é aquele que ama. É aquele que tem no amor o sentido de sua existência, o critério de seus passos. Para Jesus não há maior valor, pois resume toda Lei a ele. Não há forma de adoração mais excelente do que amar.

Aquele que ama é nascido de Deus. É adorador. Pode ser judeu, samaritano, evangélico, católico, espírita. Pode cultuar no monte, no templo, na igreja, na sinagoga, na mesquita. Pode ser branco, negro, índio ou asiático.

Toda experiência de amor é uma experiência de Deus, uma forma de culto e de adoração.

Deus não pertence a uma religião. Não pertence a um local. Não pertence a uma raça. Não pertence a uma cultura.

Jesus se revela àquela samaritana como Messias, mesmo não sendo de sua religião ou povo: ele é o Messias de Deus para todos.   

Debates a respeito de qual religião é a verdadeira, qual a melhor cultura e qual o local ideal para adorar a Deus é pura perda de tempo, vaidade. Ao invés disso, invista seu tempo em amar, em se tornar um adorar em espírito e em verdade.   

A revelação é que Deus pode ser adorado por todos, em todos os lugares, culturas e religiões, porque a questão fundamental não é essa, e sim o que há em seu espírito.

Quando se fala em adoração a Deus, condições externas são pequenos detalhes, obras do acaso, pois ninguém escolhe onde vai nascer, qual será sua cultura, etnia e tradição religiosa. Essencial são as condições internas, pois essas são fruto de escolhas. Não há mascaras ou esconderijos, o que há é o espírito. Cuide do seu.

Lucas Lujan

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Colha o dia



Está terminando mais um dia qualquer.

Hoje corações se enamoraram e apaixonados, fizeram juras de amor eterno. Hoje foi o primeiro dia de aula de vários “bichos” que foram felizes da vida para a faculdade, só para receber trote. Hoje, várias músicas foram compostas. Sorrisos se encontraram sem querer dentro do ônibus. Amizades se consolidaram hoje.

Hoje mulheres se tornaram mães. Homens ainda estão assimilando a responsabilidade de terem se tornado pais. Hoje alguns se tornaram avôs e avós. Crianças tiveram seu primeiro dia de aula na vida. Hoje, um menino teve coragem de pegar na mão de sua primeira paixão. Pessoas se casaram hoje.

Hoje crianças aprenderam a ler. Hoje o aspirante músico aprendeu a fazer “Dó” no violão. Hoje rosas nasceram no jardim de algum senhor que passou a cultivar flores. Homens chegaram à meia idade hoje. Mulheres se tornaram proprietárias de um imóvel.

Hoje pessoas encontraram razão para viver. Hoje, alguém sentiu a esperança aquecer novamente o peito. Pessoas tiveram a coragem renovada por seus amigos. Sócios tomaram cerveja para celebrar o primeiro contrato de sua nova empresa. Hoje o adolescente abriu sua primeira conta bancária e sentiu a dignidade entrar em casa.

Hoje namoros terminaram. Hoje alguém recebeu a notícia de que não foi aprovado para a próxima fase da seleção de emprego. Hoje alguém ficou surdo, e outro perdeu a visão. Hoje pessoas precisaram se despedir no aeroporto. Hoje alguém foi preso por homicídio doloso. Hoje algumas mulheres foram violentadas.

Hoje pessoas perderam o emprego. Famílias lamentaram o diagnóstico de leucemia. Hoje filhos enterraram seus pais. Mães se suicidaram. Hoje pessoas entraram em coma depois do acidente automobilístico. Hoje pessoas contraíram AIDS, outros desenvolveram diabetes.

Hoje pessoas perderam a fé. Hoje alguém debochou da esperança. Hoje algumas crianças morreram de fome e de sede. Hoje empresas faliram. O telefone tocou trazendo a pior notícia possível. Alguns perderam o amor de suas vidas hoje.

Hoje pessoas acordaram no raiar do sol, mas não conseguiram chegar a ver ele se pôr.

O fato é que a vida está passando para todos. Não há nenhum filho que possa se esquivar da fúria devoradora de Cronos.

O tempo foge. O que é que você tem feito com os seus dias?

Nossos dias não são determinados apenas pelas situações que enfrentamos, mas especialmente pela quantidade de amor que temos para enfrentá-las.

Está terminando mais um dia qualquer, por isso ele é tão especial.

Carpe Diem. 

Colha o dia.

Lucas Lujan

terça-feira, 23 de abril de 2013

É errando que se aprende




“É errando que se aprende.” A despeito de toda a verdade desta sentença, o errante geralmente está ferido demais para colher o aprendizado - o que é muito compreensível, pois é preciso lamentar o erro e assimilar o golpe antes de aprender a lição.

Passado o lamento e assimilado o golpe, é hora de rever os pontos e aprender. Pois de fato é errando que se aprende. Contudo, a verdade mais profunda desta sentença está nas entrelinhas: mais vale a tentativa do que o resultado.

Ninguém nasce sabendo falar, é preciso tentar. Ninguém nasce sabendo andar, é preciso tentar. Como em praticamente tudo, as primeiras tentativas de fazer algo que não sabemos são frustradas, marcadas pelo erro. Mas não tem problema, é errando que se aprende: se tentarmos mais, certamente faremos melhor no futuro.

Trata-se de um elogio à tentativa. Elogio verdadeiro e necessário, pois estamos todos vivendo pela primeira vez e precisamos tentar.

Mais importante do que um bebê pronunciar a palavra “mamãe” corretamente, é tentar. É a tentativa que derrete o coração da mãe, não o acerto. E por força da metáfora acredito que com Deus, em relação a nós, acontece o mesmo. O coração de Deus não se derrete com palavras pronunciadas corretamente, mas ao ver seus filhos e filhas tentando falar. 

Precisamos aprender que errar não tem tanto problema assim, pois é próprio da nossa condição imperfeita e limitada. E que acertar também não é tão importante assim, é apenas um risco que aceitamos correr quando as chances de sucesso ainda não passavam de cinquenta por cento. A verdadeira virtude é tentar.

A contradição entre errar e acertar é uma tensão permanente, porque estamos em processo de formação. Ninguém nasce pronto, somos seres em devir. Somos produto do futuro.

Todos nós teremos vidas marcadas por erros e por acertos, desde que façamos tentativas. Parar de tentar constitui o verdadeiro problema, pois quem não tenta certamente não erra, tampouco acerta, e definitivamente não vive.

Quem tenta tem história para contar. Quem tenta tem erros para lamentar e acertos para se alegrar. Quem não tenta nem história tem, quanto mais erros ou acertos. 

Não somos definidos por nossos erros, nem por nossos acertos. Somos definidos pelas tentativas que fazemos ao longo da vida. São elas que verdadeiramente revelam quem somos.

Lucas Lujan

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Notas sobre o amor



Estar vivo não é o mesmo que viver. Existir para ganhar dinheiro é estar vivo. Mas existir para, com o dinheiro, tornar a vida de alguém melhor, é viver. Existir para repetir modelos e adequar-se a padrões é estar vivo. Mas existir para a novidade e para a liberdade, é viver. Estar vivo depende apenas de funções fisiológicas. Viver precisa do encantamento do amor.

Ninguém pode viver sem amor.

O amor é cheio de contradições. Ao mesmo tempo, nada é mais coerente. É a única fortaleza que enfraquece. É o único poder que fragiliza. É a única grandeza que diminui. É o único laço que liberta. É a única ordem que desorganiza. Mas nisso não há problema porque quem ama não quer coerência, só quer amar.

Você sabe que ama quando o simples fato daquela pessoa existir te faz bem. Quando percebe que sem ela sua vida não teria o mesmo valor.

Claro, o amor tem seus riscos. Mas risco imensamente maior é passar pela vida sem amar. Porque, no fim, dificilmente alguma coisa terá valido à pena. Quem age por amor não terá a sensação de tempo perdido, mesmo diante de resultados ruins – porque o amor não espera o troco.

Quando achar que é o suficiente, dê mais um beijo. Diga mais uma vez “eu te amo”. Solte mais um sorriso. Fique mais vinte minutos e dê mais um último abraço. Tratando-se de amor, é melhor errar por excesso.

Não, não espere grandes ocasiões para dizer “eu amo você”. É a declaração que tornará a ocasião grande. Não há infelicidade maior que silenciar neste momento, porque o mundo fica pequeno e sem graça.

Quando não souber quais palavras usar para descrever o amor que sente, use as mais simples. Afinal, é na simplicidade que mora a verdade singela. Se ainda assim for incapaz, não se preocupe. O coração sabe enunciá-las com os olhos.

Ama quem pode ferir, mas prefere curar. Quem pode oprimir, mas prefere libertar. Ama quem pode punir, mas prefere salvar. O amor orienta a liberdade.

A diferença entre paixão e amor? Quem está apaixonado sente que algo lhe falta. Quem ama sente-se completo.

Acredito no amor porque só ele pode tornar a vida amável.

“Pecado” é passar pela vida sem amar intensamente. “Eternidade” é todo o tempo com aqueles que você ama.

Importa que se tenha com quem repartir a vida. São os relacionamentos que dão sentido e significado para viver. Na vida, a questão não é o sofrimento ou a felicidade. Trata-se de ter por quem sofrer e por quem sorrir.

Lucas Lujan

Leite condensado, ketchup e cigarro



O leite condensado foi inventado para substituir o leite materno. O ketchup já foi considerado remédio. Nas propagandas de cigarros, médicos eram os modelos que incentivavam seu consumo para uma vida saudável.

Nenhuma dessas coisas, contudo, persistiu. Por uma razão simples: temos a capacidade de repensar. Nenhuma fazia mais sentido, foram então reformuladas. As coisas que são não precisam ser para sempre, podem ser refeitas ou simplesmente abandonadas.

Nosso primeiros ancestrais eram nômades. Caçavam e exploravam tudo o que podiam com seus pedaços de ossos e pedras. Se comunicavam com pinturas e alguns poucos ruídos estranhos. Daí as necessidades mudaram e eles repensaram. Precisavam de habitação fixa.

As circunstâncias os levaram a desenvolver a agricultura e a fazer fogo. Com o fogo avançaram para a metalurgia e logo começaram a armazenar alimentos. As comunidades foram crescendo e agora precisavam fazer trocas com outras comunidades. Daí as necessidades mudaram e eles repensaram. Precisavam se comunicar melhor.

As circunstância os levaram a desenvolver palavras e depois inventar a escrita. Surgem grandes aglomerados humanos, ou cidades. Do desenvolvimento do raciocínio complexo passaram a fazer filosofia. Nascem a política e a economia. Daí as necessidades mudaram e eles repensaram. Precisavam de autonomia.

As circunstâncias os levaram à razão. Emancipação do ser humano. Progresso científico e tecnológico. A terra é redonda e não é o centro do universo. Isaac Newton. O Papa não é Deus - que afinal pode nem existir. Daí as necessidades mudaram e eles repensaram. Precisavam abandonar definitivamente o passado e mergulhar na modernidade.

As circunstâncias os levaram ao fonógrafo, lâmpada, fibra sintética, turbinas de vapor, indústria, câmera e papel fotográficos, motor diesel, carro, raio x, cinema, telégrafo sem fio, rádio e avião. Albert Einstein. Televisão. Internet e celulares. Internet em celulares.

Nada disso aconteceu sem muito conflito. Daí a necessidade de repensar a maneira como nos desenvolvemos e progredimos – que muitas vezes representou um retrocesso de fato. É preciso agora de um novo cimento social, que está sendo chamado de desenvolvimento sustentável. Uma revisão dos padrões de extração, degradação, modo de produção, economia de produtos, consumo e  urbanização.

As necessidades vão mudar e precisaremos repensar, sempre. A história está andando, por isso as necessidades mudam e é preciso revisão. As circunstâncias nos levam para caminhos novos, invariavelmente. É preciso ouvir o tempo e a ele dar uma resposta.

Difícil, porém, é explicar isso para os evangélicos brasileiros. A história está evidentemente em trânsito, mas eles estacionaram lá no início do século XX e de lá não querem arredar o pé. Afinal, estão sob os cincos ponto dos fundamentos da fé. O que decorre dessa teimosia é um anacronismo, que por sua vez, decorre numa irrelevância – no melhor dos casos -, ou simplesmente em puro deboche por parte dos setores da sociedade.

Assisti um vídeo de humor, com personagens fictícios, em que a Dilma Rousseff diz para o Marco Feliciano: “Não quero que peça demissão da comissão de direitos humanos e minorias, quero que peça demissão do século XXI”. Às vezes a crítica séria vem em forma de deboche, mas não perde seu caráter de denúncia flagrante.

Medidas as proporções para efeito comparativo, aqueles que se identificam com os valores morais, éticos, sócio-políticos e teológicos do Marco Feliciano ainda dão leite condensado para seus recém-nascidos, usam ketchup para tratar doenças e consomem cigarros para se manterem saudáveis. Se comunicam com ruídos estranhos e caçam com pedaços de ossos e pedras – às vezes literalmente, porque gostam de literalidade.

Lucas Lujan